
Após mais de duas décadas de negociações complexas, o acordo de livre comércio entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia está se aproximando de um momento decisivo. Anunciado em 2019 e ainda em processo de ratificação, o tratado representa um dos mais ambiciosos acordos comerciais já celebrados entre dois blocos regionais, abrangendo uma área de mais de 770 milhões de pessoas e cerca de um quarto do PIB mundial.
Para o Brasil, o acordo representa mais do que apenas uma abertura comercial: é um passo crucial para a integração definitiva nas cadeias globais de valor. Atualmente, a União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, respondendo por cerca de 16% do comércio total do país, de acordo com dados do Ministério da Indústria e Comércio do Brasil. O acordo permitiria a eliminação gradual de tarifas sobre mais de 901PT3T de produtos comercializados, beneficiando especialmente a agroindústria brasileira - um setor que representava quase 501PT3T do total de exportações do país em 2023.
Além dos benefícios tarifários, o tratado introduz regras comuns para compras públicas, propriedade intelectual, indicações geográficas e sustentabilidade ambiental, oferecendo ao Brasil maior segurança jurídica e previsibilidade regulatória. De acordo com um estudo do Confederação Nacional da Indústria (CNI), o acordo pode gerar um aumento no PIB brasileiro de cerca de US$ 87,5 bilhões nos primeiros 15 anos de implementação, além de estimular o investimento direto europeu no país.
No entanto, a aprovação do tratado na Europa está longe de ser uma conclusão precipitada. Alguns Estados-Membros - principalmente a França, a Áustria e a Irlanda - expressaram preocupação com a proteção ambiental e o desmatamento na Amazônia. Em resposta, o Brasil intensificou seus esforços de diplomacia ambiental, enfatizando suas conquistas na redução do desmatamento ilegal (menos 50% em 2023, de acordo com o INPE, a agência espacial brasileira) e seu compromisso com a agenda climática global.
Do ponto de vista europeu, o acordo é uma oportunidade estratégica para fortalecer sua presença econômica na América Latina em um contexto geopolítico cada vez mais multipolar. O acordo também é uma resposta à crescente influência chinesa na região - a China é agora o principal parceiro comercial do Brasil - e uma oportunidade de diversificar as cadeias de suprimentos, especialmente para matérias-primas essenciais.
A aprovação do acordo Mercosul-UE não é apenas uma questão de comércio: é uma escolha política e estratégica que pode redefinir o papel do Brasil na economia global e consolidar os laços históricos e econômicos entre a Europa e a América Latina. Para o LIDE e a comunidade empresarial ítalo-brasileira, apoiar essa agenda significa apostar em um futuro de cooperação, crescimento sustentável e oportunidades compartilhadas.